ÉTICA NA SAÍDA DO GAMA EM 2008 AJUDA A CONHECER O CARÁTER DE FERNANDO DINIZ

Fernando Diniz passou pelo Gama no fim da carreira como jogador. Contei a história no post publicado aqui no blog em 2 de fevereiro de 2019. Uma decisão tomada por ele ajuda a encerrar um dos temas mais explorados na primeira entrevista do técnico do Fluminense como treinador também da Seleção Brasileira até a posse de Carlo Ancelotti, a partir de junho de 2024.

Quando desembarcou no Distrito Federal, o versátil Fernando Diniz desfrutava dos últimos momentos nos papéis de volante e meia. Diniz disputou apenas uma partida com a camisa alviverde. Estreou na derrota por 2 x 0 para o Grêmio Barueri pela Série B do Brasileiro e levou cartão vermelho depois da partida. Ofendeu o árbitro Renato Cardoso da Conceição. Pegou seis jogos de suspensão no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), desfalcou o time comandado por Flávio Barros e pediu demissão.

O jogador apresentou dois argumentos para a saída do Gama: “Eu ia ficar muito tempo sem jogar e isso onera o clube. E estou longe da minha família, preciso resolver problemas particulares”.

Presidente do Gama à época, Carlos Macedo confirma o episódio em entrevista ao blog. “Ele tinha um contrato conosco, fez um jogo lá em Barueri (Barueri 2 x 0 Gama) e depois foi punido. No jogo contra o Corinthians (em Taguatinga) ele ficou sabendo da punição. Inclusive assistimos ao jogo eu, ele e o Andrés Sánchez lá no Serejão (Gama 1 x 3 Corinthians). Nós conversamos, ele comentou sobre a punição e falou que se aproveitaria para encerrar a carreira. Eu falei: ‘Pô, tudo bem, fica bom para a você assim?’ Ele falou que não iria jogar e fizemos um acerto. Pagamos um mês de salário para ele e o liberamos na apresentação do elenco na segunda-feira”.

Diniz arrumou as malas, seguiu rumo ao aeroporto e praticamente encerrou a carreira. Ele continua sendo expulso. É o campeão de vermelhos entre os treinadores segundo levantamento recente do portal GE. Até que se prove o contrário, a ética continua a mesma. O debate sobre o conflito de interesses é totalmente necessário, sim, mas não diz respeito somente ao técnico.

É preciso ter cuidado para não cometer o pecado da hipocrisia. A própria imprensa lida com esse dilema. A crise na atividade faz com que vários profissionais vistam mais de uma camisa. Cada uma com linha editorial diferente. Há quem exija dedicação exclusiva. Outras, não. É um senhor desafio, sim, lidar com isso. Temos profissionais em mais de um emprego em diversos segmentos do mercado. Cabe a cada um avaliar questões éticas e os conflitos de interesse na escolha e assumir os desdobramentos.

Saída sincera do Gama. Foto: Gustavo Moreno/Correio Braziliense

O técnico interino da Seleção sabe disso. Como convocar a Seleção nas Datas Fifa sem prejudicar concorrentes do Fluminense na Série A? A resposta é uma só: convocando apenas jogadores em atividade no exterior enquanto estiver nos dois empregos. Simples e reto. Deveria ser assim pelo menos até o fim do ano. Depois disso, caso Carlo Ancelotti não deixe o Real Madrid para cumprir a palavra com a CBF, recomenda-se a saída dele do Fluminense para evitar o desgaste.

“A ética me fez suportar o sofrimento como jogador e ser o treinador que me tornei. Não fiz estágio, passei de jogador para treinador. É algo tranquilo para mim, uma chance de mostrar que o futebol não está acima da ética e vida, é um espaço de convivência para colocar a nossa vida. É complexo? Sim. Terei que fazer convocação e tomar decisões, o senso de justiça irá me pautar como sempre. E vão avaliar, não estou aqui para pedir para que pensem de um jeito ou não. Estou tranquilo e, nesse ponto de ética, a CBF apontou para a pessoa certa”, bancou.

A ética do treinador foi desafiada o tempo inteiro na entrevista coletiva — e ele se saiu muito bem. O técnico interino em nenhum momento tentou se mostrar minimamente próximo.

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