Síndrome Pós-Pólio afeta pessoas anos após contrair a doença
Erradicada no Brasil há pelo menos 30 anos, a poliomielite ainda segue afetando a vida de quem foi acometido pelo vírus. É a Síndrome Pós-Pólio (SPP) que anos ou décadas depois de ter se recuperado da doença, a pessoa começa a apresentar a perda das funções musculares que tinham permanecido estabilizadas no intervalo entre a recuperação e o aparecimento dos novos sintomas.
A médica neurologista Larissa Kozow explica que A SPP acomete pessoas por volta dos 40 anos que, pelo menos 15 anos antes, foram infectadas pelo vírus da poliomielite. “Os músculos, normalmente aqueles que foram afetados pela poliomielite, podem se tornar cansados, apresentando dor, fracos e até atrofiar-se. A causa real da síndrome pós-poliomielite não é clara, mas pode estar relacionada aos efeitos do envelhecimento nas células nervosas já afetadas pela poliomielite”, explica.
Assim sendo, o quadro que se apresenta não é provocado pela reativação do vírus da poliomielite, mas pelo desgaste proveniente da utilização excessiva dos neurônios motores próximos daqueles que foram destruídos pelo poliovírus. Isso acontece porque, para compensar essa falta, apesar de também terem sido afetados, os neurônios sobreviventes passaram a enviar ramificações para inervar os feixes musculares comprometidos pela doença.
A tendência é que os casos de síndrome pós-pólio diminuam consideravelmente nos países em que as campanhas de vacinação contra a poliomielite representaram uma estratégia importante para erradicar a doença.
Não existem estatísticas precisas sobre o número de portadores da síndrome pós-poliomielite no Brasil, pois só em 2010 a enfermidade foi incluída no Catálogo Internacional de Doenças (CID 2010).
A servidora pública Tais Augusta de Paula contraiu poliomielite aos dois anos de idade e hoje, aos 47, luta contra os aspectos da síndrome pós-poliomielite. Ela conta que sua mãe garantiu todas as vacinas necessárias quando era bebê, porém acredita que a imunização não foi eficiente devido ao acondicionamento dos produtos, que eram guardados em isopores e não geladeira, como deveria.
Tais cresceu entendendo que sua deficiência não era uma condição limitante para poder prosperar e que, apesar das barreiras físicas e preconceitos, poderia chegar aonde quisesse. Então passou a ser uma voz ativa nos movimentos anticapacitista e antirracista e atualmente é superintendente de Promoção e Articulação de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência da Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania (SETASC) de Mato Grosso.
“Em 2016 comecei a sentir um cansaço extremo, perdi forças das minhas mãos e hoje dependo de uma scooter para me locomover. O prognóstico não é dos melhores, posso até perder de vez funções como a fala, por exemplo. Mas, apesar das recomendações médicas para diminuir o ritmo de trabalho e atividades, eu não consigo e não posso. Preciso usar minha voz enquanto posso para cuidar de outras pessoas que tanto precisam e ainda conscientizar sobre a síndrome pós-pólio. Ainda não é de conhecimento de todos os médicos sobre essa doença. Recentemente escutei de uma profissional que isso é coisa da minha cabeça”, ressalta Tais.
Os principais sintomas da SPP são: Fraqueza muscular progressiva nos membros atingidos ou não pela doença; cansaço excessivo; dores musculares e nas articulações; câimbras; dor de cabeça; dificuldade de deglutição e para controlar os esfíncteres; hipersensibilidade ao frio; distúrbios do sono; problemas respiratórios; depressão e ansiedade.
O diagnóstico leva em conta os sinais da síndrome instalados há mais de um ano em pessoas que tiveram poliomielite no passado. Não existe tratamento específico para a síndrome pós-poliomielite. A abordagem é sempre multidisciplinar e inclui exercícios aeróbicos leves, de alongamento, de resistência com pouca carga, hidroterapia, orientação nutricional, assim como o uso de órteses (bengalas, muletas, andadores, coletes, por exemplo), de próteses, de equipamentos de assistência e suporte, além de medicamentos para controle da dor e da ansiedade. A fisioterapia é um recurso essencial para ajudar a manter a função muscular.
VACINAÇÃO
A vacinação é uma das principais formas de prevenir doenças e é importante em todas as fases da vida. A imunidade coletiva, ou imunidade de efeito rebanho, beneficia até quem não recebeu a vacina. Quando uma população é amplamente imunizada, vírus e bactérias não se multiplicam tanto, diminuindo o poder de transmissão.
A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença contagiosa e causada por um vírus que pode infectar crianças e adultos e voltou a ficar no radar dos órgãos de saúde em função da baixa cobertura vacinal no país. Embora a meta estipulada pelo Ministério da Saúde seja de imunizar cerca de 95% das crianças na faixa etária entre um e cinco anos, até a primeira quinzena de outubro, esse índice alcançou apenas 65%, muito aquém do esperado. Essa é uma doença que não existe tratamento e nem cura, só pode ser evitada com a vacina, que é segura e eficaz. Há uma grande preocupação, de maneira geral, com a volta da doença a qual é uma enfermidade real e deve ser combatida.