Tiro de 12 na boca: os detalhes do caso de idoso que matou bandido em casa

 Ao Correio, a PCRO contou os detalhes de como um assalto em uma residência acabou com um idoso empunhando uma espingarda de calibre 12 e matando um presidiário com extensa ficha criminal, incluindo participação em chacina histórica


(crédito: Reprodução/Redes sociais )

Com um revólver de calibre 38, Osmar Pereira Nonato, mais conhecido como Pururuca, invadiu a residência de um casal de idosos, localizada no bairro São Cristóvão, região central de Porto Velho, Rondônia, na quarta-feira (25/1). Ele estava junto de um comparsa. O que eles, muito provavelmente, não esperavam, era que o dono da casa, um idoso acompanhado da esposa, deteria a dupla de bandidos empunhando uma espingarda de calibre 12. O tiro foi dado na boca do assaltante mencionado e explodiu sua cabeça.

Os detalhes do desfecho sangrento foram relatados pela Polícia Civil do estado (PCRO) ao Correio .

Segundo Elinaldo Bonfim, assessor da corporação, o estouro na boca de Pururuca não foi resultado da primeira reação do idoso, dono da residência invadida. Ele atirou para cima primeiro, para intimidá-lo dando um alerta, mas o bandido não recuou e adentrou a casa arrombando a porta. Foi quando o criminoso apontou o revólver para a esposa do proprietário do local, ameaçando-a de morte. O idoso então reagiu atirando no rosto de Osmar, em cheio.

Porém, o idoso, autor do tiro de 12, não matou um assaltante sem experiência no mundo do crime. Pururuca, morto aos 44 anos, foi um bandido altamente procurado, “com inúmeras passagens e antecedentes criminais”, incluindo condenação de décadas e fugas de presídio, como ressalta Bonfim.

De acordo com o porta-voz da PCRO, foi ele um dos responsáveis pela grande rebelião do presídio José Mario Alves, conhecido como “Urso Branco”, em abril de 2004. O caso teve repercussão internacional, pois levou o Brasil a ser denunciado na Corte Interamericana por violação dos direitos humanos, segundo confirma o Tribunal de Justiça estadual (TJRO). (Saiba mais logo abaixo)

“O idoso ligou para a polícia e pediu ajuda. A polícia compareceu ao local, foi feita a perícia e apreendido o revólver desse bandido, pela tentativa frustrada de roubo. O caso foi encaminhado então para a delegacia especializada em crimes contra o patrimônio em roubos e extorsões, que é a Delegacia de Patrimônio da capital de Rondônia”, informou o porta-voz da PCRO, ao Correio.

O comparsa conseguiu fugir. A polícia ainda não sabe de seu paradeiro.

Chacina histórica de mortes cruéis acompanhadas ao vivo

A chacina do presídio “Urso Branco” é um marco na história de Rondônia e do Brasil. Ela é dividida em pelo menos dois grandes momentos*: a rebelião de presos em 2002, quando 27 detentos foram mortos; e, novamente, em 2004, quando Pururuca participou, resultando em mais sangue.

Para se ter uma ideia da proporção do caso (além do fato de ter sido acompanhado de perto pela Corte Interamericana), a rebelião do “Urso Branco” é considerada o maior assassinato coletivo de presos do país depois da tragédia da Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, em 1992 – conhecido como “o Massacre do Carandiru”, o episódio sem precedentes, já retratado em livros e filmes nacionais famosos, resultou em 111 presos mortos após a invasão da Polícia Militar.

O primeiro motim na penitenciária de Rondônia, em 2002, começou quando presos de celas normais foram colocados no mesmo local que os presos jurados de morte, que eram mantidos em outro pavilhão para aumentar a segurança. O superlotamento de internos e o pouco contingente e inexperiência de agentes, apontada pela imprensa na ocasião, também foram fatores decisivos. A capacidade da Casa de Detenção era de 350, mas abrigava 1.300 presos.

Em 2004, o motim começou com o assassinato de dois detentos, que eram desafetos dos rebelados. Segundo o governo federal, do telhado da prisão, os presos lançaram os corpos dos cadáveres e exibiram uma cabeça decapitada. O lançamento dos corpos aconteceu de uma caixa d’água, como documentou o Tribunal de Justiça estadual (TJRO).

Pelo menos 12 presidiários morreram, assassinados com requintes de crueldade. Segundo relatos da Justiça, o laudo da morte de um dos presidiários assassinados, Luciano Teotônio dos Santos, conhecido como Pesão, por exemplo, registrou mais de 30 golpes de chuços (arma branca pontiaguda) em seu corpo. Na rebelião, vítimas também foram eletrocutadas e enforcadas.

E mais: os momentos de horror foram acompanhado por familiares das vítimas e registrados ao vivo pelas câmeras dos veículos de comunicação, que acompanhavam o motim.

“Em razão do número de envolvidos, da complexidade dos fatos criminosos e da quantidade de recursos, todo o processo acabou levando mais de 10 anos para ter o primeiro julgamento”, informou o TJRO. Ao todo foram denunciados 37 presos.

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