CIÊNCIA E ESPAÇO
Para evitar que mortos se transformassem em “vampiros”, alguns eram enterrados com foice no pescoço e cadeado no pé
Pedro Borges Spadoni
Mortos que as pessoas temiam que poderiam voltar como ‘vampiros’ eram enterrados com foice na cabeça (Imagem: Universidade Nicolau Copernico)
Arqueólogos da Universidade Nicolau Copernico, da Polônia, apontaram práticas obscuras de proteção contra o que eram temidos como “vampiros” há cerca de quatro séculos num vilarejo localizado no país.
Para quem tem pressa:
Arqueólogos da Universidade Nicolau Copernico na Polônia descobriram práticas de proteção contra supostos “vampiros”, de quatro séculos atrás, num vilarejo;
Restos mortais de indivíduos foram encontrados com uma foice de ferro no pescoço, um cadeado no pé e correntes fixando-os ao solo, revelando crenças e rituais sombrios da época;
O termo “vampiro” é moderno, mas na era medieval, os europeus acreditavam na possibilidade dos mortos retornarem como “upior”, especialmente vítimas de doenças, crianças não batizadas e pessoas que morreram em circunstâncias trágicas;
Em 2022, os arqueólogos descobriram os restos de uma mulher jovem enterrada com os mesmos artefatos macabros. Em 2023, os restos de uma criança entre cinco e sete anos foram encontrados em posição de bruços, também com um cadeado no pé;
Esses achados fazem parte de um conjunto de sepulturas onde um terço delas apresenta práticas funerárias “incomuns”, como o sepultamento com objetos de ferro e pedras, acreditados terem poderes sobre os mortos.
Os restos mortais de indivíduos – encontrados com uma foice de ferro no pescoço, um cadeado no pé e correntes prendendo-os ao solo – oferecem um vislumbre sombrio das crenças e rituais do passado.
Proteção contra ‘vampiros’
(Imagem: Universidade Nicolau Copernico)
O professor associado Dariusz Polinski, líder da escavação em Pien, explicou que embora o termo “vampiro” seja moderno, os europeus medievais acreditavam amplamente na possibilidade dos mortos retornarem como criaturas conhecidas como “upior”.
Especificamente, aqueles que haviam sido vítimas de doenças, crianças não batizadas e pessoas que faleceram em circunstâncias trágicas eram os mais temidos. “Provavelmente, havia um grande medo dessa pessoa. E esses artefatos tinham como objetivo proteger os vivos desta pessoa”, explica Polinski.
Em 2022, os arqueólogos descobriram os restos mortais de uma mulher jovem, enterrada em um cemitério não identificado, com os mesmos objetos de proteção macabra. Em 2023, a poucos metros de distância, os restos mortais de uma criança entre cinco e sete anos de idade foram encontrados em posição de bruços, também com um cadeado no pé.
Ambos os corpos foram sepultados como “vampiros”, indicando a profundidade das crenças e práticas da época. A mulher provavelmente estava doente, o que pode ter levado a comunidade a temer seu retorno dos mortos.
No entanto, a criança representa um caso mais perturbador. A equipe de Polinski acredita que ela tenha sido fonte de ainda mais medo, pois os arqueólogos descobriram sinais de exumação pós-enterro, com o torso e a cabeça removidos.
Contexto
Estes achados fazem parte de um conjunto de sepulturas, no qual um terço delas exibe práticas funerárias “incomuns”. Isso inclui o sepultamento com objetos de ferro, que se acreditava terem poderes mágicos sobre os mortos, e pedras, frequentemente posicionadas nos braços ou pescoço.
Apesar de ter sido um local de sepultamento há séculos, o cemitério foi rapidamente esquecido no século 18, sem deixar marcas em mapas ou lápides. O tamanho total do cemitério ainda permanece desconhecido e a equipe planeja conduzir mais estudos no local, utilizando tecnologia de radar não invasivo para explorar as camadas ocultas da história.
Por: Espaço e Ciência
JNFBRASIL JORNALNOSSAFOLHA-DF/GO.